As histórias da tocha olímpica, que mantém acesa a chama desde sua
origem, em Olímpia, até seu destino final, no Maracanã, e da paralímpica, cuja
chama “nasce” em Stoke Mandeville, o berço inglês do esporte para deficientes,
pouco se cruzam. Mais do que isso, têm significados distintos.
Foi na Inglaterra que o esporte adaptado surgiu, logo após a Segunda
Guerra Mundial, como ato de reabilitação e inserção social dos soldados que
voltavam para casa mutilados. Inicialmente, a intenção era oferecer alternativa
de tratamento aos indivíduos que sofreram traumas medulares durante o conflito.
Em 1944, por meio de um convite do governo britânico, o neurologista e
neurocirurgião alemão Ludwig Guttmann, que escapara da perseguição aos judeus
na Alemanha nazista, inaugurou um centro de traumas medulares no Hospital de
Stoke Mandeville. Quatro anos depois, decidiu organizar competições esportivas
envolvendo veteranos da Segunda Guerra. Eram os primeiros jogos para atletas
com deficiência física, com 16 cadeirantes (14 homens e duas mulheres).
O revezamento da tocha paralímpica será realizado entre 1º e 7 de
setembro e terá aproximadamente 700 condutores. Passará por Brasília, Joinville
(SC), Belém (PA), Natal (RN) e São Paulo, representando as cinco regiões do
Brasil, além do Rio de Janeiro. A primeira tocha deverá ser acesa em Joinville.
O diretor de cerimônias da Rio 2016, Leonardo Caetano, explica que a
definição do trajeto levou em consideração a relevância das cidades para o
movimento paralímpico; a existência de estrutura para treinamento; e também se
há atletas de destaque que nasceram na região.
Em cada uma das cinco cidades escolhidas ocorrerá um evento de 6 a 8
horas de duração. Após os cinco eventos, um em cada dia, a tocha chegará ao Rio
(6/9). A pira paralímpica será acesa no dia 7 de setembro, no início dos Jogos,
também no Estádio do Maracanã.
ACENDIMENTO CONJUNTO
A tocha paralímpica não fará uma viagem única e seu trajeto desde a
Inglaterra é simbólico, virtual. Serão cinco chamas independentes. Após o
acendimento de uma mini pira, encerrando a festa em cada cidade escolhida, “o
fogo regional” será enviado virtualmente até o Rio.
— A chama paralímpica não tem o mesmo conceito de chama sagrada. Essa
chama existe dentro de cada um de nós. Usaremos as redes sociais para crescer a
chama virtual, pedindo “doações” de histórias, experiências, sentimentos, que
serão as fagulhas — explicou Marco Elias, líder do revezamento da tocha da
Rio-2016.
Será apenas no Rio que a chama paralímpica será criada com a junção
dessas chamas regionais à “chama” de Stoke Mandeville.
A tocha paralímpica tem forma semelhante à olímpica, e, segundo o
designer do projeto, Gustavo Chelles, a similaridade é proposital, já que os
conceitos foram criados em conjunto. Uma diferença entre as duas tochas é a
cor: a olímpica tem detalhes em azul e verde. A paralímpica tem as cores
laranja e vermelha. Fechadas, são idênticas. Quadrangular, esta tocha carrega
inscrições em braile, na parte onde os condutores vão segurá-la. Os deficientes
visuais poderão ler em português e inglês os lemas do esporte paralímpico:
coragem, determinação, inspiração e igualdade. Também pelo tato, poderão
identificar as formas das ondas do mar, o desenho do Calçadão de Copacabana e
as curvas famosas do relevo carioca.
— A tocha paralímpica me permite ver as formas da cidade. O cartão-postal
do Rio está na ponta dos meus dedos — diz Marcos Lima, deficiente visual,
ex-jogador do futebol de 5, e especialista em integração paralímpica da Rio
2016.