1956, MELBOURNE


Betty Cuthbert foi a campeã dos 100m - Acervo


Duração: de 27 de novembro a 8 de dezembro
Atletas: 3.314

Alguns ineditismos na história olímpica estiveram presentes nos Jogos de Melbourne, na Austrália. Foi a primeira edição no hemisfério sul (a cidade ganhou a disputa com Buenos Aires), o que jogou as competições para os meses de novembro e dezembro, para aproveitar o início do verão australiano. Mesmo assim, a Olimpíada não saiu completamente da Europa: por causa da rigorosa legislação na Austrália, que impedia a entrada de cavalos estrangeiros no país, o torneio de hipismo aconteceu longe, em Estocolmo, na Suécia, em julho, meses antes do restante dos Jogos.

Esse não foi o único contratempo da competição. Muito pelo contrário. Os Jogos de Melbourne aconteceram num período em que vários conflitos aconteciam, e eles refletiram na Olimpíada: em protesto contra a intervenção de França e Inglaterra no Canal de Suez, Egito, Iraque e Líbano decidiram não participar dos Jogos. Os sucessivos conflitos na África do Norte, onde alguns países travavam luta por independência, também tiraram delegações da Olimpíada. Já a China justificou sua ausência como protesto contra a inclusão de Taiwan nos Jogos. Por fim, Espanha, Holanda e Suíça também boicotaram o evento esportivo por causa da invasão da União Soviética na Hungria, àquela altura já com tanques na capital Budapeste.

O curioso é que o torneio olímpico de polo aquático reservou justamente um Hungria x URSS na tabela. A partida era vencida pelos húngaros por 4 a 0 quando houve uma briga generalizada entre jogadores, comissões técnicas e até dirigentes dos dois países. O resultado da pancadaria é desconhecido, mas a Hungria passaria pelos soviéticos e acabaria campeã na modalidade.

Para os atletas brasileiros, era caro, e nada fácil, atravessar o globo para chegar à Oceania nos anos 1950. O país foi representado por 48 competidores, menos da metade da delegação de quatro anos antes, em Helsinque, na Finlândia. Havia apenas uma mulher, Mary Dalva Proença, que ficou em 16º na prova de plataforma dos saltos ornamentais. Destaque mesmo, mais uma vez, foi Adhemar Ferreira da Silva, que se sagrou bicampeão do salto triplo, um feito que levaria 48 anos para se repetir — em Atenas-2004, os velejadores Robert Scheidt, Torben Grael e Marcelo Ferreira, e os jogadores de vôlei Maurício e Giovane também se tornaram bicampeões olímpicos.

A grande estrela individual foi a velocista da casa Beth Cuthbert, apelidada de “golden girl”, que abiscoitou três ouros nas provas de 100 m, 200 m e 4x100 m, no atletismo. Nos esportes coletivos, o time de basquete dos Estados Unidos elevou à máxima potência sua superioridade sobre os demais: os americanos marcaram mais que o dobro de pontos de seus rivais nos Jogos, vencendo por mais de 30 pontos todas as partidas.

No quadro de medalhas, porém, a URSS ficou em primeiro no geral, acabando com o domínio americano.

CURIOSIDADES

Um boxeador na estiva

Com o ouro na categoria meio-leve, o húngaro Laszlo Papp se tornou o primeiro boxeador da história a ganhar três ouros consecutivos. Sem condições de apenas se dedicar ao boxe, ele alternava o esporte com a profissão de estivador.

Juntos

Pela 1ª vez, os atletas desfilaram misturados na cerimônia de encerramento, o que se tornou uma tradição olímpica.

Estraga prazeres

Apesar de os Estados Unidos dominarem as provas de atletismo, um russo conseguiu estragar a festa nos 5.000 m e nos 10.000 m: Vladimir Kuts. Com o ouro nas duas provas, ele repetiu o feito do tcheco Emil Zatopek nos Jogos de Helsinque-1952.